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sábado, 14 de outubro de 2023

Eclipse. Que fenômeno é esse?

Eu não sou de menosprezar o impacto de um eclipse, nem na minha vida nem na de ninguém. Mas também não sou de me apavorar diante de um ou dois, aqui e ali. Afinal, todo ano temos 2 temporadas de eclipses e, querendo ou não, sobrevivemos para contar a história. Eu prefiro esmiuçar o que eles propõem sinalizar em nossa vida, mastigar e digerir todo seu recado e enfrentar olho no olho (com óculos apropriados, claro) o que ele veio eclipsar por aqui.

Sim. Eclipses trazem o recado de que pessoas, coisas, ideias, projetos, sonhos e qualquer outro fenômeno da vida pode ser eclipsado ao redor. Pode acontecer fora e pode acontecer dentro. Pode ser aquela pessoa que parte para o além vida, como pode ser aquela pessoa que parte da nossa vida. Pode ser aquela luz que se apaga dentro do nosso coração também, assim como a luz se apaga no céu. Pode ser que seja um momento que finalizamos um ciclo pessoal importante e isso parecer uma morte simbólica, um pedaço de nós que se foi, que foi eclipsado. A vida reflete o céu e o céu reflete a vida.

Nas abordagens antigas, o clima de eclipse era bem fatalista, não existia muito livre-arbítrio nem muito espaço para a consciência digerir significados e conduzir o recado do céu de uma forma particular, intimista e transformadora. Era tudo muito preto no branco e os fatos falavam mais alto: ou morria ou sobrevivia. Bem simples. Então os recados do céu eram simples também, sem muito espaço para as nuances da consciência. Os tempos mudaram e os tempos vão mudar ainda muito mais (oremos e nos preparemos). Hoje temos sim uma parcela maior de livre-arbítrio. Ganhamos uma fatia bem pequena desse bolo, mas já podemos saborear a vida de outra forma. Temos coletivamente o reconhecimento de nosso trabalho interno, temos técnicas e recursos de exercer nosso livre-arbítrio e sobreviver mais e melhor às intempéries da vida e do céu. É por isso (e só por isso) que o eclipse não precisa ser uma condenação para ninguém.


Dito isso, vamos esmiuçar as possibilidades de interpretação dos recados de um eclipse.

Para um eclipse acontecer, precisa haver o alinhamento do Sol-Lua com o eixo de Nodos Lunares, fazendo com que Luas Cheias e Novas estejam precisamente alinhadas com a Terra e assim ocasione o ocultamento de um dos luminares. Os Nodos são pontos virtuais que andam em marcha ré no zodíaco, no sentido inverso ao dos planetas, e é por causa desse movimento para trás que os eclipses (o alinhamento Sol-Lua-Nodos-Terra) trazem o simbolismo no espaço-tempo de "um recado do futuro para o presente". Então, é muito importante estar atento aos eventos e informações que pipocam durante o período de eclipses, pois tem aí sempre uma mensagem codificada de algo que está criando corpo na realidade, mas que ainda não se mostrou por inteiro. Um recado do nosso eu do futuro para o nosso eu do agora.


Outro fato interessante é que os povos antigos diziam que "não se mexe em vespeiro em tempos de eclipse". Ou seja, os instintos da natureza estão todos à flor da pele no período e existe um certo caos generalizado no ar, uma eletricidade sombria, em que tudo de mais bizarro pode acontecer. É neste ponto que nós humanos nos vemos minúsculos diante de um mundo assustador, diante de uma natureza avassaladora e de um planeta que pode nos engolir. Isso surge porque nos achamos, hoje em dia, seres dominantes diante da natureza e o inverso (a impotência) nos parece bizarro e inesperado. Pura ingenuidade nossa.

Nós humanos muitas vezes esquecemos que as reações caóticas da natureza (sejam nos animais, no clima ou nos coletivos), todas são uma resposta a algo que rompe com a estabilidade esperada e necessária dos contextos e ciclos naturais que nos sustentam a todos. A segurança e estabilidade é rompida na natureza quando surge a ocultação da luz do céu, seja na noite ou no dia, seja da Lua ou do Sol, seja pouco ou seja muito. Essa interrupção da emissão de luz que chega na Terra (e na percepção dos ciclos de dia-noite-dia) é suficiente para eletrizar o ar e deixar todos os seres viventes à beira do caos. Não só animais e humanos, mas também os elementos e elementais que mantém a estrutura do planeta. Tudo se mexe para acomodar o desconforto da estabilidade rompida pelo eclipse. É o instinto em estado de alerta para responder a cada possível ameaça. Por isso, querido humano, não mexa em vespeiro em tempos de eclipse.


Esticando um pouco mais este raciocínio, podemos entender que nós humanos também podemos reagir a contextos tensos ou situações limite ou problemas camuflados com a mesma instintividade de um animal selvagem. Em tempos de eclipse é muito mais possível e passível de acontecer. Reproduzimos subjetivamente este mesmo estado de reação anímica instintiva a qualquer ameaça que parece estar pairando no ar, a esta instabilidade elétrica e desconcertante, a esta sensação de que a vida é incompreensível e que tudo ao redor está envolto em sombras.

Sombras? Eu disse sombras? Sim. O eclipse é o aparecimento de uma sombra sobre o Sol ou sobre a Lua, já que no eclipse lunar a Terra oculta a luz do Sol sobre a Lua e no eclipse solar a Lua oculta a luz do Sol sobre a faixa de terra que ele iluminaria na Terra. É nesse sentido que vemos esse espelhamento ocorrer com os eventos sombrios que surgem no período. É como se o aspecto sombra da dualidade estivesse mais ativo, já que nossa consciência tende a negar e reprimir a própria sombra, projetando-a nos outros e negando-a em si. Somos todos seres iluminados e bondosos diante de um mundo coberto de maldade. Mas aí vem o eclipse e o lado sombra de todo mundo pula para fora, como um complexo psíquico que age para além da vontade individual. Esta parte sombra tão negada como real, não se constrange em aparecer junto do aparecimento da sombra sobre a luz dos luminares no céu. O problema maior é isso ser um fenômeno generalizado, em que cada encontro parece ser o encontro de duas sombras e não entre dois seres humanos vivendo suas melhores versões. Por isso, quanto mais silêncio, reserva e alívio físico, emocional e mental desta tensão que paira no ar, melhor. Um pouco de reclusão não faz mal a ninguém. 


Em sua melhor versão, estar consciente de tudo isso nos permite viver esta conjuntura metafísica exótica de uma forma menos destrutiva e mais construtiva. É possível estar alerta, recluso, meditativo e silencioso, buscando refletir sobre os acontecimentos da vida. É possível se preparar e estar atento para captar as mensagens subliminares que a vida está trazendo, sejam nas sincronicidades ou nos sonhos, nos mal-entendidos em conversas e encontros ou nas imagens e correlações simbólicas que surgem ao redor. Como também em oráculos e em estados meditativos de consciência, em contatos sutis com a natureza ou com cristais, dentre outros. É possível aproveitar este estado alterado no funcionamento da vida aqui na Terra para buscar formas alternativas de encontro com o próprio Eu e de descobertas sobre a vida e a existência. A época de eclipses é também um momento de grande despertar da consciência, para aqueles que já possuem um trabalho metafísico interior e conseguem conduzir esta energia para a abertura de insights e canais positivos de comunicação com dimensões sutis. Para além de todo caos, há a cura. Para além de toda perda, há a abertura de novos caminhos. Para além de toda ruptura, há a descoberta de verdades libertadoras. Para todo fim, há um novo começo.


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